quarta-feira, 15 de maio de 2013

Diário de SP: SAMPA


Estou em São Paulo a pouquíssimo tempo, mas quando cheguei aqui, fui com uma amiga baiana comprar umas T-Shirts na Galeria do Rock, no centro da cidade, e na hora de voltar para casa, pegamos um táxi em que o taxista fez questão de cruzar a Ipiranga com a Avenida São João, no momento dessa passagem, ele comentou sobre a canção que fala sobre esse trecho, e comentei brincando que lógico que conheço a canção, já que foi escrita por meu conterrâneo, Caetano Veloso, um baiano como eu.

Passado esse episódio decidi escutar essa canção novamente, e confesso que fiquei paralisada com a beleza dela, nunca tinha entendido tão bem, como agora, o que essa música representa, não só para Caetano, mas para todos os baianos que decidem abandonar a terra da alegria para viver na terra da garoa.

Dizem que Caetano escreveu essa canção baseada na sua primeira impressão quando chegou à cidade, e que a principio ela parecia feia comparada com o Rio, e que não parecia grande e sim muito provinciana. Engraçado, que eu também tive essa mesma impressão, São Paulo é uma cidade imensa, e que apesar de sua dimensão, ela vive em padrões mais provincianos até do que Salvador.

As pessoas aqui são mais acanhadas, mais contidas, sendo completamente diferente da terra do dendê, onde as pessoas são recebidas com uma intimidade não vista em nenhum lugar do país. Acredito que quando Caetano fala Da deselegância discreta de tuas meninas” ele tinha o intuito de citar esse comportamento mais contido que o paulista tem. Não considero isso uma crítica e sim um lindo elogio, afinal a deselegância se trata ao fato do paulista não ser tão receptivo a conversas como as baianas, e que muitos chegam a dizer que o jeito do baiano pode ser evasivo.

Sempre tive simpatia por São Paulo, mas nunca a considerei bonita, e hoje entendo que essa beleza depende muito do ponto de vista, ela não tem a beleza natural e cultural de História do Brasil que a Bahia tem e respira, mas aqui podemos perceber as suas belezas, até mesmo nos dias mais cinzentos. Não consigo imaginar São Paulo sem seus imensos prédios com lindas estruturas arquitetônicas.

Confesso que “quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto. Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto. É que Narciso acha feio o que não é espelho. E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho”, foi exatamente assim que me senti, parecia que ia ser consumida pela imensidão da cidade, e fiquei esperando aquele sentir leve e espontâneo que a Bahia respira, mas não achei, não consegui sentir a leveza e o ar das bênçãos dos orixás, e lógico que me assustei, afinal o novo assusta muito a gente, inclusive a mim.

E achei o meu começo aqui bastante difícil, cheguei a pensar que não iria me adaptar a essa rotina paulista, fiquei triste, reflexiva e recolhida analisando tudo e todos, mas agora posso dizer que estou me reencontrando, porque entendi que a partir do momento que decidi largar tudo para morar aqui, essa seria a minha realidade, amo ser da Bahia, e tenho total orgulho de pertencer à terra de todos os santos, encantos e axés, mas me permitir conhecer a “poesia concreta de tuas esquinas” está sendo uma experiência sensacional, e por que não intrigante.  

Sei que “foste um difícil começo, afasta o que não conheço. E quem vem de outro sonho FELIZ de CIDADE. Aprende depressa a chamar-te de REALIDADE. Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso”, mas foi isso que escolhi para mim e entendi que “da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas. Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaço”, o céu daqui não tem a beleza do de Salvador, mas também reserva os seus mistérios que podem ser vistos como uma linda paisagem, porque aqui também tem as “tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva”.

Posso dizer que essa é a minha mais nova trilha de vida, ela é quem dá início a o meu novo capítulo de vida aqui. Finalmente entendo perfeitamente o que Caetano disse, e digo mais, só poderia sair de um baiano, e como não me orgulhar por pertencer a essa terra que tem o poder de exportar pessoas com talentos reconhecidos em todo o país?

São Paulo tem muitos nomes importantes da música, mas nenhum conseguiu retratar tão bem a sua beleza e imensidão assustadora como um baiano, ou seja, Caetano Veloso, afinal ele em sua canção prova que até mesmo “os novos baianos passeiam na tua garoa. E novos baianos te podem curtir numa boa”, e de fato, aqui todos estão tão concentrados em si, que quem chega acaba curtindo a imensidão da pluralidade que a cidade tem a lhe oferecer, afinal São Paulo pertence ao mundo, aqui é sim patrimônio público.

Apesar de sua seriedade, São Paulo, é uma cidade que consegue receber a todos, aqui é o local de muitas tribos, culturas e costumes. E não tem como quem vem de outra realidade não se surpreender com a sua amplitude, que a princípio se parece assustadora e feia, mas logo que você vai descobrindo a sua grandiosidade, ela se torna muito bela e interessante.

Hoje digo a você Cateano que de fato “Alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João”. 


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